domingo, abril 30, 2006

Já cá cantam!

Fiz um esforço e decidi-me pelos dois dias. No primeiro, dia 4, fico-me pelo 2.º Balcão; no segundo, dia 5, vou lá para a frente: plateia em pé. Curiosamente, os bilhetes para a plateia em pé custam mais cinco euros... E já lá vão os tempos dos bilhetes estilizados pela banda. Uma pena.

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sexta-feira, abril 28, 2006

Execução vietcong, Saigão, 1968. Um instante fatal

Perfeitamente "congelado", um instante fatal representativo da brutalidade da Guerra do Vietname, pela objectiva de Eddie Adams. O momento da morte do vietcong catapultou o fotógrafo para a fama vitalícia. A foto da execução às mãos do chefe da polícia vietnamita Tenente Coronel Nguyen Ngoc Loan, ao meio-dia de 1 de Fevereiro de 1968, resistiu ao teste do tempo e à história da Guerra da Indochina, e reafirma hoje a brutalidade do século que passou.

Eddie Adams disse:

«Eu só segui os três ao dirigirem-se até nós, fazendo uma fotografia ocasional. Quando estavam perto - talvez a cinco pés -, os soldados pararam e recuaram. Vi um homem dirigir-se à minha objectiva, pela esquerda. Tirou uma pistola do coldre e levantou-a. Não fazia ideia de que ele iria disparar. Era comum apontar-se uma pistola à cabeça dos prisioneiros durante os interrogatórios. Então, preparei-me para fazer esta foto - a ameaça, o interrogatório. Mas tal não sucedeu. O homem simplesmente puxou a pistola do coldre, levantou-a à cabeça do VC e disparou para a têmpora. Fiz uma foto em simultâneo.»

Nos dias após a foto da execução, os fotógrafos vietnamitas competiram por todo um cenário de horror de ocorrências similares. O fotógrafo da AP Le Ngoc Cung fez uma sequência de partir o coração mostrando um soldado sul-vietnamita partilhando uma sandes e água de um cantil com um prisioneiro vietcong. A última foto mostra como o primeiro matou est' último. Instantes fatais...

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quinta-feira, abril 27, 2006

Instante Fatal hiperligado

O recentíssimo Instante Fatal, do fotojornalista, arquitecto e professor Luiz Carvalho, é a nova adição à lista de links do Caderno de Corda. No espaço, "de crónica multimédia", prometem-se "confissões, opiniões, crítica e provocação". Bem-vindo, professor! Ele há coisas que fazem todo o sentido.

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quarta-feira, abril 26, 2006

A Revolução está por fazer - Qüotidianos 2


Não sei ao certo o que escrever hoje, dia 26, depois de ter falhado a publicação ontem... Estive fora. Passei a tarde em Peniche, donde, como se sabe, no dia 3 de Janeiro de 1960, se evadiram do forte Álvaro Cunhal, Joaquim Gomes, Carlos Costa, Jaime Serra, Francisco Miguel, José Carlos, Guilherme Carvalho, Pedro Soares, Rogério de Carvalho e Francisco Martins Rodrigues. Ao fim da tarde daquele dia, parava na vila, em frente ao forte, um carro com o porta-bagagens aberto. Estava dado o sinal, do exterior da prisão, de que tudo se encontrava a postos.
Eu, hoje, estacionei o carro junto ao forte, mas deixei-o obviamente trancado, e bem! Explorei um desfiladeiro escavado pelo mar e por obras públicas de 1954 (o da foto). É então que surge uma senhora que diria bastante idosa - a avaliar também pelo cabelo completamente branco e pela face, pele enrugada e curtida pelo sol - surgir em passo solto, leve e seguro pelas pedras, dirigindo-se a um monte de rochas com metros valentes de diâmetro, que perfaziam outros tantos em altura. Com a maior das naturalidades, desatou a escalar o penedo, calhau a calhau, com a ajuda das mãos. Fiquei a observá-la, a vinte metros. Chegou onde queria. Esticou o braço distendendo todo o corpo, com uma agilidade notável. Alcançou algo. Vejo sair, de entre os pedregulhos, uma peça de... roupa? Sim, e branca - uma meia que havia caído do estendal de uma casa construída sobre o despenhadeiro, no limite do rochedo. Ali fiquei, talvez esperando-a. A senhora passou por mim no caminho de volta e sorriu. Disse-lhe "boa tarde", ao que ela replicou. Não resisti e lancei, de imediato: "Isso é que foi uma trabalheira (...) Parecia uma jovem de 16 anos!" Houve parada, resposta, e uma saudação amigável acompanhada de sorrisos. A senhora voltou a subir até à boca do desfiladeiro, deixando para trás os pedregulhos. Foi novamente para a lida da casa, num afã paradoxalmente apaziguador. Quedei-me ali por mais dois minutos, talvez. Quando me vinha embora, ouço, lá de cima: "Já se vão embora?" Novamente entre sorrisos, o assentimento e o prenúncio da derradeira despedida. Lá de cima, de uma janelinha no precipício, as palavras "Boa sorte! Sejam felizes!"
Voltando ao princípio, apesar de me arrepiar inexplicavelmente o "E Depois do Adeus" - e até, a espaços, o "Grândola" -, eu diria que a Revolução está por fazer...

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segunda-feira, abril 24, 2006

Vídeo promocional de "Pearl Jam", o álbum

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domingo, abril 23, 2006

Pearl Jam de regresso a Portugal nos dias 4 e 5 de Setembro

Ontem, A Voz enviou-me esta foto numa mensagem de telemóvel. Dizia assim: "Notícia fresquinha do Correio da Manhã de hoje... 'Tamos lá. Abração."
Depois do Dramático e do Restelo, seguem-se dois concertos, desta feita no Pavilhão Atlântico (ai a acústica!), seis anos após a última passagem pela Europa. Os espectáculos, a 4 e 5 de Setembro, estão inseridos na digressão mundial de 2006, que promove o último álbum, simplesmente intitulado "Pearl Jam", cujo lançamento em Portugal está agendado para 2 de Maio próximo, como, aliás, já havia referido no post de 10 de Março passado. O primeiro single extraído do álbum, «World Wide Suicide», já toca nas rádios e, não será demais dizer, encontra-se disponível para download no site do grupo. A digressão mundial começa em Dublin, a 23 de Agosto, e termina a 25 de Setembro, em Viena. Nas próximas semanas deverão ser anunciadas datas adicionais.
...e Baby Jane regressaram às salas de ensaios
Hoje, há não muitas horas atrás, a banda Baby Jane, que há considerável tempo não se reunia para tocar, juntou-se em toda a força numa sala de ensaios. A impressão mais notória talvez tenha sido a de que aquelas duas horas e meia passaram em... 20 minutos. Sentia-me pronto para começar a tocar "a sério" quando, ao único momento de pausa para cigarro, me apercebi de que tínhamos tempo para apenas mais duas ou três músicas antes de abandonarmos o local. Depois, na Telepizza, quatro típicas iguarias italianas de diâmetro familiar fizeram as delícias dos cinco outrora esbeltos abdómens, hoje mais ou menos protuberantes, mas nem por isso menos encantadores. Não se trabalhou qualquer música nova e a conclusão da esperada maquete está pendente do arranjo da mesa do Guiller. O "Treasures Inside" fica para o próximo ensaio...

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sexta-feira, abril 21, 2006

Caderno de Corda chega a Bollywood (Cliquem para ver o filme)

quinta-feira, abril 20, 2006

Largo de S. Domingos, 19 de Abril (1506-2006)

Depois de eu próprio ter sido alvo de críticas (essencialmente presenciais, ou seja, não blogosféricas) acerca da "ênfase" com que assinalei, ontem, o encontro judeu no Largo de S. Domingos, publico hoje as fotos trigueiras (pois que foram obtidas com o telemóvel) do momento, para satisfação da curiosidade de uns e informação de outros. Façam dos meus, os vossos olhos.
No entanto, não me dedicarei à discussão sobre a causa. Parece-me apenas que, gerado o movimento pela blogosfera ou não; seja este resultado ou não da congeminação de um lobby judeu, cujas hostes alegadamente se autocomiseram, a efeméride (sim, assim opto por me referir ao móbil do ajuntamento) merecia ser recordada. Que nenhum português se sinta, porém, atingido pela atrocidade cometida há 500 anos atrás, ou o povo alemão não saberia, hoje, amanhã e sempre, em que buraco se enfiar...

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quarta-feira, abril 19, 2006

Cumprem-se hoje 500 anos desde o Pogrom

Imagem retirada do Miniscente

Cumprem-se hoje cinco séculos desde o Pogrom de Lisboa. Tentarei estar presente. Tal como já me havia comprometido, via Miniscente, assinalo hoje o dia, respondendo positivamente ao repto lançado pelo Nuno Guerreiro na Rua da Judiaria:

"No dia 19 de Abril vão à Baixa de Lisboa e, no Rossio, acendam uma vela simbólica por cada uma das vítimas. Quatro mil velas que iluminem a memória."


(A PARTIR DAS 19 H. NO LARGO DE S. DOMINGOS, ROSSIO)


A Convocatória:


ATENDENDO AO APELO DE NUNO GUERREIRO, DO BLOG "A RUA DA JUDIARIA", A COMUNIDADE ISRAELITA DE LISBOA JUNTA-SE A ESTA NOBRE INICIATIVA ATRAVÉS DA MOBILIZAÇÃO DOS SEUS MEMBROS E SIMPATIZANTES, AMANHÃ, 4.ª FEIRA - DIA 19/4 -, ÀS 19 HORAS, NO LARGO SÃO DOMINGOS (AO ROSSIO). SERÁ RECITADA A ORAÇÃO DE KADISH E IZKOR EM HOMENAGEM ÀS VÍTIMAS DESTE MASSACRE. POR SER AMANHÃ AINDA "CHAG E YOM TOV" (7º DIA DE PESSACH), AGRADECEMOS QUE OS MEMBROS DA CIL PARTICIPEM NESTA MOBILIZAÇÃO, ESTANDO TODOS PRESENTES NA ORAÇÃO. VENHA. PARTICIPE E TRAGA A SUA FAMÍLIA!

-*-


"Se existe um único tema que domina todos os meus escritos, todas as minhas obsessões, é a memória – porque tenho tanto medo do esquecimento quando do ódio ou da morte. Esquecer, para um judeu, é negar o seu povo – e tudo o que ele simboliza – e também negar-se a si próprio. Daí o meu desejo de não esquecer nem de onde venho nem o que influenciou as minhas opções: as paisagens assombradas da minha infância; a terra de maldição onde num instante as crianças se transformavam em velhos; as pessoas que conheci ao longo desse caminho.Lembrar… lembra-te que foste escravo no Egipto. Lembra-te de santificar o Shabbat… Lembra-te de Amalek, que quis aniquilar-te… nenhum outro mandamento bíblico é mais persistente. O judeus vivem e crescem sob o signo da memória. (…) Ser judeu é lembrar – reclamar o nosso direito à memória bem como o dever de a manter viva.Através do passado recente encontro-me com as minhas origens distantes, retornando a Moisés e Abraão. É também em seu nome que eu comunico a minha busca. Quando um judeu reza, as suas orações enlaçam-se às de David e do Besht. Quando um judeu desespera, é a tristeza de Jeremias que o faz chorar. A memória dos judeus ganha força na memória do seu povo e, para além dela, da humanidade.Porque a memória é um bem: cria laços em vez de os destruir. Laços entre o presente e o passado, entre indivíduos e grupos. É por me lembrar do nosso princípio comum que me aproximo dos meus semelhantes, de todos os seres humanos. É por me recusar esquecer que o seu futuro é tão importante quanto o meu. Que seria o futuro da humanidade se fosse desprovido de memória?”


Elie Wiesel, prémio Nobel da Paz, retirado do prefácio do livro “From the Kingdom of Memory”, Summit Books, New York, 1990

n.b. - Este post foi escrito com base no publicado na Rua da Judiaria e no Miniscente

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terça-feira, abril 18, 2006

Mais uma vez, obrigado, Johnny

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segunda-feira, abril 17, 2006

Qüotidianos 1

À subida da Calçada de Santana, em frente à mercearia do Virgílio, ali na esquina oposta àquela onde Camões se amparou depois de noites de mar alto aviado em terra, juntinho ao prédio do Grupo Desportivo da Pena, uma velha de pouco mais que 60 anos, cabelo grisalho volumosamente despenteado, discursava, alheada da plateia desinteressada. "Louca", diriam, ouvindo-lhe as alucinações de olhar perdido boiado em lágrimas secas.
- ... e eles voam por cima de mim, da minha cabeça. Em cima de mim, da minha cabeça, comem-me por dentro e por fora...

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O Mundo é de Quem não Sente (Fernando Pessoa)

"O mundo é de quem não sente. A condição essencial para se ser um homem prático é a ausência de sensibilidade. A qualidade principal na prática da vida é aquela qualidade que conduz à acção, isto é, a vontade. Ora há duas coisas que estorvam a acção - a sensibilidade e o pensamento analítico, que não é, afinal, mais que o pensamento com sensibilidade. Toda a acção é, por sua natureza, a projecção da personalidade sobre o mundo externo, e como o mundo externo é em grande e principal parte composto por entes humanos, segue que essa projecção da personalidade é essencialmente o atravessarmo-nos no caminho alheio, o estorvar, ferir e esmagar os outros, conforme o nosso modo de agir.
Para agir é, pois, preciso que nos não figuremos com facilidade as personalidades alheias, as suas dores e alegrias. Quem simpatiza pára. O homem de acção considera o mundo externo como composto exclusivamente de matéria inerte - ou inerte em si mesma, como uma pedra sobre que passa ou que afasta do caminho; ou inerte como um ente humano que, porque não lhe pôde resistir, tanto faz que fosse homem como pedra, pois, como à pedra, ou se afastou ou se passou por cima."

Fernando Pessoa, in 'O Livro do Desassossego'

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domingo, abril 16, 2006

sábado, abril 15, 2006

Será Bin Laden o actor mais bem pago de Hollywood?

O texto abaixo publicado, da autoria conjunta de Davi Reis e Saulo Mendes, foi escrito dias após o atentado terrorista de 11 de Março de 2004. Era necessária a entrega de um artigo de opinião sobre tema à nossa escolha, para publicação imediata num jornal regional, na semana em que se deu a tragédia em Madrid. Pusemos de parte as ideias iniciais e seguimos o instinto catártico do choque, aqui tão perto. Assim foi. Dada a extensão do texto, o editor do respectivo jornal optou por parti-lo em dois, tendo sido a primeira parte publicada a 27 de Março de 2004, e a segunda a 15 de Maio do mesmo ano.
-*-
Ainda a propósito do atentado de 11 de Março, inferindo por intuição e bom senso de quem também é povo, rebusca-se a ideia e regista-se o receio e o medo na raíz da esclarecida manifestação impetuosa, desconfiada mas sóbria, de soberania popular, que, nas recentes eleições, em Espanha, resultou na deslocação do eleitorado para a esquerda política. Apesar de haver quem apenas apelide a atitude do PP, partido então em exercício no governo espanhol, de “excessivamente zelosa” quanto à insinuação da mentira ou à declaração de verdades desviantes, apenas verosímeis e nunca verdadeiras, subsistirá também, numa perspectiva social, a ideia de que nada disto teria acontecido com um governo mais comprometido com a linhagem da velha europa da França e da Alemanha. Pois bem, torna-se óbvio, pelo menos aos olhos de quem tenha uma vida dita “normal”; quem, por exemplo, frequente transportes públicos, que o 11 de Setembro é mais uma epidemia política que vem do lado de lá do Atlântico. Zapatero, actual Primeiro-Ministro espanhol e líder do PSOE, afirmou peremptoriamente, na sequência imediata da sua vitória, pretender retirar as tropas do Iraque e modificar a natureza da sua relação com os EUA. A realpolitik americana é uma árvore muito frondosa que já há muito dá frutos azedos que caem, amiúde, em quintal alheio. Sucedem-se a perder de vista os erros estratégicos, os mistérios, os embustes, e, muito grave, a manipulação mediática. Certo é que, com a tecnologia que possuem, os gatekeepers ao serviço do império do dólar não usam lápis azul. Pois bem, chegou a pior das censuras: a do excesso de nada; do emaranhado em que emissores parciais lançam uma informação imperfeita e circular, redundante, muitas vezes a mesma, e sem qualquer fundamento que a contextualize, integre ou explique. É o caso dos noticiários mas também dos boletins propagandistas. Nietzsche diria certa vez que os tratados internacionais eram escritos de modo a que ninguém os compreendesse mesmo... Temos, portanto, cada vez mais mensagens unívocas, mais iguais. Infelizmente, temos também receptores cada vez mais passivos, adormecidos, anestesiados. Mas o fenómeno do decréscimo qualitativo do jornalismo manifesta-se à escala mundial. São, no entanto, novamente os EUA a única hiper-potência mundial, sem país que se lhe equipare em poder bélico, económico, produtivo ou tecnológico, que detém o monopólio informativo, mediático. Enumeram-se, por exemplo, a Internet (e a insegurança provocada pela sua insuficiência normativa e pelo espiolhar informático da vida privada); numerosos canais de tv que emitem mundialmente (em particular, noticiosos), ou o cinema (mais de 70% da produção cinematográfica mundial), como produtos beneméritos do tio Sam.
Ora bem, o americano é sempre o herói. E por vezes até o é. Imagine-se o que pensará um talibã diante de uma tela de linho, seguindo as peripécias de John Rambo. Mas rechaçando a ideia de que este é um discurso anti-americano, em democracia, nunca tanto como agora as aparências encobriram a realidade. Devemos estar alerta para os fenómenos onde se manifesta uma crescente centralização na esfera dos dispositivos comunicacionais e seus agentes, bem como para os conteúdos que são veiculados, as formas de transmissão da mensagem ou os objectivos por detrás dos seus níveis de eficácia. Estamos claramente perante credos totalitários, mesmo que a mensagem visível e explícita possa ser assumidamente antitotalitária.
Confiar em quem? Em quê? Numa democracia por imposição? Os EUA, ao invadirem o Iraque, recorreram a uma justificação falsa por não poderem usar a verdadeira. George Bush e Tony Blair não nos ludibriaram pela tv em comunicados devido a informação ilusória veiculada pelos seus serviços secretos. A invasão era, por certo, um objectivo estratégico premeditado. A ONU e a NATO apenas adiaram o “evento” por dias e, em pouco tempo, se perfilaram ao lado dos EUA mais de uma centena de países, entre os quais Portugal. A informação - ou boato - que já precedia o atentado de 11 de Setembro, confirmava a existência e a produção de armas de destruição maciça. Para alguns, justificação mais do que suficiente para a consumação de um conflito. Desengane-se o espectador. Ainda não foi desta que viu a “guerra em directo”. Talvez tenha visto uma guerra embedded ao estilo simulado hollywoodesco. Esta capacidade comunicacional sem precedentes, monopolizada e propagandeada, permite a realização de utopias orwellianas indesejadas na base de filosofias ditatoriais, onde não esteja prevista a individualidade do ser humano, com a agravante de a tecnologia se encontrar ao serviço dessa mesma perversão. Só considerando os media enquanto verdadeiros difusores das estruturas dominantes do poder, com a capacidade de gerar efeitos de adaptação nas suas audiências, poderemos sobre eles fazer um juízo ou reflexão sérios.
Portugal, anfitrião da Cimeira dos Açores, passou a fazer parte da lista negra da Al-Qaeda. Será que o “Atlantismo” justifica os riscos a que o país está submetido? A gestão da informação com vista à manipulação da opinião pública tornou-se uma pasta ministerial da maior importância, muitas vezes assumida prazenteiramente pelos próprios chefes de estado. A título de exemplo, recordemos Aznar, que, na tentativa de responsabilizar a ETA pelos atentados de 11 de Março, contactou algumas redacções dos media espanhóis, confirmando o envolvimento dos “etarras” no referido atentado, acto que custou as eleições ao seu partido. A vizinha Espanha não estava, até ao dia das eleições, tal como Portugal, muito longe de uma realidade de suspeição e desconfiança. Uma das promessas eleitorais de Zapatero foi precisamente a remodelação dos cargos hierárquicos da cúpula dos colossos mediáticos espanhóis, em particular as estações de tv, dadas a estreitas ligações com o poder político há oito anos instalado em Madrid. Os media são, hoje, uma formação tentacular gigantesca de um polvo com uma cabeça muito pequenina que, no entanto, lança muita tinta deixando tudo difuso e borrado à sua volta. A estereotipização parece ter vindo para ficar e, adiante-se, esta forma de cultura “promocional” tem consequências profundas sobre a estrutura da personalidade individual.
Já talvez nem nos valha especular acerca das coordenadas do paradeiro de Bin Laden, problematizar o terrorismo de Estado perpetrado por Israel, “resolvendo” mudamente o problema palestiniado, ou voltar a crer na ONU e no direito internacional, diante da altivez prepotente do império do momento. Os EUA estão a desperdiçar todo o seu magnífico potencial no atoleiro do Iraque e em todo um pantanal que, custa a crer, não seja visto como um péssimo negócio para qualquer economista, gestor ou corretor de Dow Jones. Os verdadeiros interessados, aqueles que carregam no botão, e os seus propósitos, nunca são, no Wonderland - espécie de paraíso límbico da “cultura Rato Mickey” -, gente com rosto, que tenha que fugir de paparazzis. É um dado adquirido que, nos dias que correm, a indústria cultural e uma estrutura social cada vez mais hierarquizada e autoritária transformam uma mensagem de obediência irreflexiva em valor determinante. O indivíduo não decide autonomamente - adere acriticamente aos valores impostos. Não é ele o sujeito da indústria cultural, mas o seu objecto. Não nos esqueçamos também de que a indústria cultural tem a sensibilidade artística de uma debulhadora, é uma máquina. Prefere a eficácia do produto, determina assim o consumo, tiranizando-o, e, por fim, exclui tudo o que é novo, uma vez que isso representa para si um risco inútil. A sua tendência reside em canalizar a reacção do público para a mediocridade, a inércia intelectual e a estúpida credulidade. Acontece que, por detrás da máscara do controlo social - suposta macro-função de Estados e media contemporâneos -, os Mass Media confundem a unidireccionalidade do processo comunicativo com um simplismo adaptado à própria actividade. O resultado é uma mediocridade instituída que pressupõe uma cultura massificada e a partilha completa e homogénea de um mesmo mapa cognitivo.
Atingimos por fim a ideia de que a fórmula substitui a forma, o que implica que se encontre um denominador comum: qualidade média para um espectador médio, num sincretismo de plástico, excremento do petróleo. É nesta linha que surgem os tais fait divers, naquela franja do real em que o inesperado, o bizarro, o assassínio, o incidente, a aventura, irrompem na vida quotidiana. Puro esquecimento, manobra diversiva. A tv, dita “novo elo social”, e que surge historicamente em substituição da Igreja, não parece cumprir, na sua profundidade, quer o seu objectivo social, quer o objectivo educativo, "espiritual", digamos. Há que compreender que o crescendo totalitário é, há já muito tempo, um fenómeno moderno desenvolvido e não uma qualquer manifestação arcaizante, e que, por isso mesmo, atribui à tecnologia um papel decisivo no controlo político e policial das massas.
Teorizaram-se novas formas de violência nas sociedades democráticas ocidentais. Essa violência revela-se não só em mecanismos interiorizados de auto-repressão, como no “pesadelo climatizado” do mundo tecnocrático, com o seu controlo abusivo, tornado possível pela computorização, ou pela ditadura de consumo massificado. Temos assim uma “cultura de massa” imanente em que um consumismo depredador assume o papel que a mobilização ideológica teria, por exemplo, no comunismo russo, pressupondo um centro produtor dessa cultura massificada, que reduz e “aliena” os seus receptores ao papel de meros joguetes do mercado, absorvendo-se assim todo o potencial de conflitos da sociedade, em favor dos detentores do poder. Foi assim criada uma noção de equivalência entre a violência e a repressão directas (o perigo fisíco e a total dependência do poder) e uma violência interiorizada e reprimida que explica a alienação, mesmo quando existe abundância material e liberdade política. Estas formulações legitimam críticas de sistema das sociedades democráticas, na base das quais as teorias totalitárias se têm desenvolvido. Tudo isto para dizer que é exactamente a alienação das grandes massas, a "passividade existencial do homem comum”, a sua indiferença à história, que o torna o instrumento e a vítima de totalitarismos.

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quinta-feira, abril 13, 2006

Photographia Qüotidiana - Tlm. 1

Ontem, ao chegar a casa, reparei no autocolante de um carro estacionado por perto. Fotografei-o com o telemóvel

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quarta-feira, abril 12, 2006

Cartas de Amor Ridículas 6

Podias ter deixado pelo menos um recado,
nem que dentro de um livro,
mas talvez já nem seja preciso.
Junto à fotografia onde estamos abraçados,
também eu pensei deixar recados,
mas escreveria um livro
que talvez nunca fosse lido.
Por isso, não tornei a pensar,
olhei para aquela outra fotografia,
onde estou só, naquele outro lugar,
onde o tempo nos espera, e eu para ti sorria.
Pensei em não ta deixar,
preencher teu vazio de nenhum lugar,
nenhuma recordação,
por me teres mostrado que, para ti,
todo o tempo comigo é definhar,
todo o amor é vão,
todo ele foi prevista inumação.
Podes até conseguir chorar...
Chora-me um rio barrento
que eu irei pelo mar,
encontrar meu destino, novo alento,
encontrar, encontrar!
E talvez apenas por, neste turbilhão que me condena,
me entregue, me desgaste, e então sim, chegue a definhar;
por nenhuma alma se amortece a fatal pena,
que o tempo, incorrigível, mói.
Queira meu corpo padecer na cama...
Até lá, possa minha amorável faceta
permanecer intacta, ilesa,
em sangria desatada de fome asceta
que se entrega ao que virá,
mesmo sem reza, mas crendo todas as certezas.
Seja a carta caixa de Pandora
donde saiam, sedentos, alaúdes desenfreados em surpresa,
e a fealdade se iguale em juízo natural à suspeita beleza.
Seja o meu amor por ti hoje verdadeiro.
O nome que lhe encontro, alumiado e derradeiro,
frágil lume em vela acesa, amor verdadeiro.

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terça-feira, abril 11, 2006

Jokers

Palavras em saco roto

«The US government has consistently blamed me for being behind every attack. I would like to assure the world that I did not plan the recent attacks, which seem to have been planned by people for personal reasons. I have been living in the islamic emirate of Afghanistan and following it's leaders' rules. The current leader does not allow me to exercise such operations

Osama Bin Laden em declarações à Al Jazeera, dias após os atentados de 11 de Setembro
A América foi sequestrada. Não pela Al Qaeda. Não por Osama Bin Laden. Mas por um grupo de tiranos preparados e dispostos a fazer o que for necessário para estrangular e sangrar o próprio país e o mundo.

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segunda-feira, abril 10, 2006

"Chega sempre um momento na história em que quem se atreve a dizer que dois e dois são quatro é condenado à morte" (Albert Camus in 'A Peste')

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sábado, abril 08, 2006

Loose Change - Mais próximo da Verdade (cliquem na imagem)

Loose Change - Um fino véu sobre a Verdade

"Loose Change" é um filme assustador. A possibilidade de os ataques de 11 de Setembro de 2001 poderem não ter sido orquestrados por Bin Laden ou membros da Al Qaeda, mas pelo governo norte-americano, é uma perspectiva verdadeiramente apocalíptica, aterrorizante e, para aqueles que acreditam numa tal democracia, devastadora.

Nos Estados Unidos já muitos sugeriram que talvez o debate sobre o 9/11 não passe de um infindável chorrilho de suposições sem prova. Mas a questão aparenta também ser a existência de provas tangíveis ocultadas numa sala escura donde nunca verterá uma verdade para a esfera pública.

No filme que hoje vos apresento, com o qual tomei contacto por intermédio do blogue A Sombra, de Rui Semblano, uma mão-cheia de factos com valor de prova, muitas vezes protagonizados por fontes informativas desde CNN, BBC e Fox News, aos directamente afectados pelo colapso das Twin Towers, é suficientemente sólida, se não irrefutável, para que o estimado leitor lhe dedique a atenção que merece ou, melhor, exige…

Qualquer justificação que nos seja apresentada - mais ou menos plausível - para que os ataques tenham tido lugar, nunca nos é afirmada como sendo a Verdade. No filme, apenas se arquitecta uma tentativa de mostrar uma provável verdade, tenebrosa e potencialmente destruidora se descoberta a sua total concretização.

Outros filmes do género documental que abordam o 9/11 estão disponíveis na net. Um deles, sobre o qual já havia escrito no dia 21 de Março e disponibilizado o link, é “Painful Deceptions”, editado e narrado por uma equipa que pretende suscitar a reabertura das investigações, aprofundar e esclarecer o que o (C)ommission Report ignora e… omite. Existe ainda outro filme sobre a matéria intitulado “9/11: In Plane Site”.

Algo é notório ainda, e compreensível, no que respeita à posição do povo norte-americano, sabendo-se que, hoje, uma esmagadora percentagem da população nutre desconfianças profundas quanto ao sucedido: Muita gente não quer ainda admitir que poderá haver um problema demasiadamente grave e tétrico com o seu governo. A imagem confrangedora de uma nova Guerra Civil pode emergir. É, pois, necessário responder com celeridade às questões que ensombram a confiança da população no Estado americano e, consequentemente, na política mundial, sendo o país da Coca-Cola o arauto da hipocrisia democrática amarelada.

Os realizadores deste filme, Dylan Avery e Korey Rowe, conseguiram ir um pouco além do que Michael Moore já havia feito em "Fahrenheit 9/11", talvez por o rescaldo deste último ter sido executado muito a quente. Seja como for, todos devemos demonstrar a nossa inquietação e colocar as nossas dúvidas; fazer perguntas. O que aprenderão os nossos filhos na escola, um dia, quando se abordar o tema?
n.b. - É obrigatória a visualização deste filme. Esqueçam a tv, sentem-se e relaxem... se conseguirem.

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sexta-feira, abril 07, 2006

"Com o engodo de uma mentira, pesca-se uma carpa de verdade" (William Shakespeare)

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quinta-feira, abril 06, 2006

Obrigado, Johnny!

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quarta-feira, abril 05, 2006

Poema Escarlate

Quem fala de futebol e não sente,
não sabe o que faz sonhar a pobre gente,
perdedora da vida sempre,
vencedora quando o Benfica vence.

E então somos todos contentes,
neste recanto do mundo impaciente,
capazes de, juntos, sermos maiores que o mundo,
maiores no golo, num uníssono profundo.

(O que traz a poesia ao futebol,
senão nós, pequenos gigantes,
que acendemos um sol
quando joga o Benfica,
e esquecemos os lúgubres prantos?)

Sejamos grandes como dantes!,
que esta página urge ser escrita!
Sabemos ser pobres mas infantes
da Descoberta mais bonita:

A de que somos capazes
de fazer a própria História
contra os maiores ventos e tempestades,
sobrevivendo aos escolhos,
atrevendo-nos em glória.

Já fomos jovens rapazes
mais ou menos loquazes
em palavras ou actos,
de nós todos memória.

Tivemos o mundo colado aos pés;
somos o Brasil da Europa.
Driblamos dois, driblamos três,
fazemos do Mantorras anjo-negro-cometa
que hoje pode chutar uma estrela,
fintar sem aviso todo o planeta.

Dá na anca, dá no peito,
beija a bola no joelho,
dá de bunda, dá com jeito,
Mantorras, faz chorar de alegria o País
no mundo inteiro!

Seja presságio o Poema Escarlate
da fé depositada no menino de Angola,
que, de um chuto na bola,
fará ao Barça xeque-mate.

Minutos finais do embate.

n.b. - Lembram-se do Vata? Topo Norte. Estava ali tão perto... O talismã devia jogar. Se assim Koeman decidir, terá em si canalizada a força de 5000 homens.

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terça-feira, abril 04, 2006


"Aneri Writing a Letter", Wojciech Weiss, 1911

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Suicídio truncado

Deixaste a mão escrever,
no teu bilhete ardente,
que por mim eras até capaz de morrer
e transmigrar contente.

Deixaste o rádio tocar
e ainda esperaste na música a mensagem,
mas o que estava no ar
nem sequioso-deserto-alucinava-miragem.

Deixaste de querer saber
senão do que tua mão vertia,
e o bilhete que pudesses escrever
não saciaria do teu lirismo a poesia.

Deixaste entrar a morte
de mansinho, lentamente,
sem do gume da faca, afiado, o corte.
Empurraste num trago as comoções
e, lívida, selaste a carta já desvanecente.

Dizias no teu bilhete ardente
que por mim eras até capaz de morrer,
e assim tomaste de um frasco, de repente,
displicente, o remédio permanente
para o padecimento de viver.

Sem poesia nem prosa fremente,
escreveste a tua carta.
Nem esperaste para ouvir na rádio
a nossa música, a tua mensagem,
de tão esvaída e farta.

Adormeceste espraiada sobre a escrivaninha,
e supunhas que assim eu te encontrasse à noitinha.

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segunda-feira, abril 03, 2006

Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida (só eu sei porque escrevi isto hoje; é de mim para mim...)

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domingo, abril 02, 2006

2+2=5 [The Lukewarm] - Radiohead

Are you such a dreamer?
To put the world to rights?
I'll stay home forever
Where two & two always makes up five 

I'll lay down the tracks 
Sandbag & hide 
January has April's showers 
And two & two always makes up five 

It's the devil's way now 
There is no way out 
You can scream & you can shout 
It is too late now 

Because you have not been paying attention 

I try to sing along 
I get it all wrong 
'Cause I’m not (2x) 
I swat 'em like flies 
but like flies the buggers 
keep coming back 
and NOT 
But I’m not 
"All hail to the thief" (2x) 
"But I am not!" (4x) 
"Don't question my authority or put me in the docks" 
Cozimnot! 
Go & tell the king 
That the sky is falling in 
When it's not 
But it´s not (2x) 
Maybe not (2x) 

Tempo: 3:19 
Editora: Parlophone 


"2+2=5" é o título do tema de abertura do álbum “Hail to the Thief”, sexto dos Radiohead, lançado em 2003. Não se esqueçam desta informação. Será retomada adiante. Já é dia 2 de Abril. Podemos procurar dizer pequenas verdades… Este é, em essência, problema da Verdade e da mentira. 

2+2=5 em 1984

A frase «dois mais dois perfazem cinco» é por vezes proferida como sucinta e vívida representação de uma afirmação ideológica, especialmente se criada com o propósito de manter e servir uma “agenda” doutrinada. O uso comum da expressão terá, porventura, sido popularizado por George Orwell na obra 1984 (Parte III, Capítulo II), quando contrastada com a proposição verdadeira e matemática da frase «dois mais dois igual a quatro». O protagonista de Orwell, Winston Smith, questionando-se sobre a possibilidade de o Estado declarar que dois mais dois perfazem cinco, e de que, se todos puderem crer em algo semelhante, o facto torna-se real, repensa a frase vezes sem conta. No início do livro, Winston escreve no diário comprado clandestinamente ao velho Charrington, a um canto da casa, fora do alcance visual perscrutante da teletela: «Liberdade é a liberdade de dizer que dois mais dois perfazem quatro. Se tal estiver garantido, tudo o resto se segue.» Mais tarde, Winston serve-se novamente do mecanismo de duplipensar tentando convencer-se de que a afirmação é verdadeira. Orwell já escrevia sobre o conceito “2+2=5” antes da publicação de 1984, cujo parto, como se sabe, se deu durante o ano de 1948, donde se extraiu o título, por inversão dos dois últimos números. Durante o período em que trabalhou na BBC, familiarizou-se com os métodos da propaganda nazi. Num ensaio sobre a Guerra Civil Espanhola, publicado quatro anos antes dos trabalhos de “1984”, Orwell escreveu: «A teoria nazi nega especificamente que tal coisa como “a Verdade” exista. […] O objectivo implícito desta linha de pensamento é um mundo de pesadelo no qual o líder controla não apenas o futuro, mas o passado. Se o líder disser que este ou aquele acontecimento nunca aconteceu, então não aconteceu. Se ele disser que dois e dois são cinco – bem, dois e dois são cinco. Esta perspectiva assusta-me muito mais do que bombas […]»

Segundo a quase totalidade dos biógrafos de Orwell, a provável origem da ideia reside no livro “Assignment in Utopia”, escrito pelo jornalista e historiador Eugene Lyons, reportando-se a quando esteve na União Soviética. Num dos capítulos, titulado “2+2=5”, a expressão é explicada, ganhando paralelos históricos, factuais, tão reais quantas as possibilidades que 1984 viria a levantar - “2+2=5” fora um slogan usado pelo governo de Estaline, prevendo que o plano de cinco anos para o desenvolvimento da economia russa estaria completado em quatro anos. No entanto, Orwell pode também ter sido influenciado pelo Reichsmarschall nazi Hermann Göring, que, certa vez, numa hiperbólica demonstração de lealdade a Hitler, declarou:

«Se o Führer quiser, dois e dois são cinco!»

2+2=5 segundo Dostoievsky, Victor Hugo e a cultura pop

Nas “Notas do Subterrâneo” de Fyodor Dostoievsky, o protagonista apoia implicitamente a ideia de que dois e dois são cinco em sucessivos parágrafos onde se consideram as implicações de rejeitar a afirmação «dois mais dois são quatro». Dostoievsky escrevia em 1864. No entanto, de acordo com Roderick T. Long, Victor Hugo fez também sua a frase, em 1852, objectando a forma como uma vasta maioria de votantes franceses apoiou Napoleão III, dando cobro ao modo como os valores e as causas liberais haviam sido até então ignorados pelo líder. Victor Hugo disse: «Agora, ponham sete milhões e 500 mil votantes a dizer que dois e dois perfazem cinco; que a linha recta é a estrada mais longa; que o todo é inferior à soma das partes. Façam-no ser declarado por oito milhões, dez milhões, cem milhões de votos, que não terão avançado um único passo.» O conceito foi ainda explorado num episódio de Star Trek: The Next Generation, "Chain of Command," no qual Picard é torturado por um Cardassiano. A reminiscência de 1984 é clara à luz de uma cena onde O'Brien, o torturador de Winston Smith, levanta quatro dedos e lhe inflige descargas eléctricas dizendo que são cinco os dedos que levanta.

- Quatro! Cinco! Seis! Eu não sei!

Radiohead e Orwell

"The Lukewarm" é o título alternativo da música “2+2=5”, dos Radiohead, cuja letra se encontra à cabeça do post. Todas as músicas do álbum “Hail to the Thief” têm dois títulos – um deles apelidado “alternativo”. Toda a canção (último single do álbum) contém múltiplas referências ao livro Nineteen Eighty-Four (1984), de George Orwell. No título (2+2=5), a referência à problemática psicológica que o protagonista, Winston, enfrenta; no subtítulo, a alusão à condição manietada, quebrantada, em que Winston é simplesmente deixado ir, no final do livro, e a frase “Question my authority or put me in the docks”, que se refere ao tribunal conhecido como “the docks” no enredo… O termo “hail to the thief” surge como trocadilho para a expressão comum “hail to the chief”. O título do álbum também provém desta canção. É uma possível referência a George Bush, por este ter “roubado” as eleições norte-americanas em 2000. A evidência já foi negada pela banda. Camadas sonoras boreais, tempestuosas ou literárias sobrepostas, as atmosferas musicais complexas criadas pelos Radiohead fazem, quando depuradas aturadas e sucessivas audições, parecer que a aparente desarrumação, ruído, nota, pausa, têm um motivo racional, ainda que sempre emotivo. Um dos mais incríveis (porque talvez seja este o melhor adjectivo) álbuns da banda de Thom Yorke foi, sem dúvida, "OK Computer". Pode dizer-se com alguma segurança que “OK Computer” e “1984” estarão também correlacionados, além das afecções da alma; da angústia, depressão, inquietude perante o mundo. Yorke alude propositadamente a "1984" já em “OK Computer”. Em "Hail to the Thief" volta a citar, como já vimos, o duplipensar na faixa de abertura: "2+2=5". Para fãs dos Radiohead, um pequeno brinde: seguem-se algumas curiosidades acerca do tema “2+2=5”. Ouçam-no e confiram:

  • O primeiro som do álbum é o ruído resultante do guitarrista Jonny Greenwood a colocar o jack na guitarra. Foi o primeiro som a ser registado quando os Radiohead foram para estúdio gravar “Hail to the Thief”. Se escutarem com muita atenção, Thom Yorke diz, ao fundo, «That's a nice way to start, Jonny...»
  • A primeira parte da canção bate a 7/4, e muda para 4/4 a cerca de um minuto e 23 segundos corridos, logo após as palavras "Two and two always makes five..."
  • Exactamente ao bater dos 2 minutos e 25 segundos (2:25), o ritmo, a dinâmica e o registo da música transformam-se radicalmente, e assim permanecerão até ao final da faixa.

Se bem que, quando contemplados arredondamentos de números decimais, 2+2 pode, de facto, resultar em 5 (2.4+2.4=4.8, ou seja, 5), os números 4 e 5 encontram-se também no limite relativo ao número de objectos que a maioria das pessoas consegue identificar com um simples olhar fugaz. É improvável que alguém veja quatro objectos em três reais - mas confundir quatro por cinco, ou vice-versa, é possível.

Ironicamente, cerca de um mês antes do lançamento de “Hail to the Thief”, foi roubada uma cópia do álbum do estúdio de gravação, que pouco mais tarde redundou na Internet.


You have not been

paying attention


“Quanto maior for a mentira, mais pessoas acreditarão nela”

Adolf Hitler

n.b. - Este post não teria sido possível sem o auxílio da Wikipedia. Retomarei a questão essencial da Verdade em breve.

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sábado, abril 01, 2006

2+2=5